Ainda me recordo como se fosse hoje, já que é sempre o hoje que tem de contar para o Doente Alcoólico que se pretende tratar. No tempo em que me iniciei como Doente abstinente, ouvia dizer constantemente a meu respeito ele é um borrachola, bebe o juizo e não para porque não quer. Quando lutava desesperadamente para tentar descobrir como e onde me poderia tratar, ouvir constantemente estes comentários magoava-me profundamente, agudizava ainda mais a minha dor e muitas vezes recordo que isso me fazia sofrer, se era Doente alcoólico crónico e por espaços lutava na tentativa de ver se conseguia parar de beber, estes comentários despropositados e muitas das vezes arrogantes, se calhar serviam de desculpa para eu continuar a beber.Nunca a palavra bebado que se usava na ocasião teve tanto peso como na fase negra e antes de ter conseguido parar de beber. Mais tarde recorri ao dicionário para saber se a palavra bebado era tão pesada como parecia e eu a tinha sentido. Quando vi que bebado bebedice ou bebedeira era a mesma coisa que alcoólico, cheguei a pensar que não fazia sentido a importância que tinha dado a essa palavra para mim demasiada pesada, mas na verdade e decorrido todos estes anos da minha abstinência e com o redforço dos testemunhos de outros amigos doentes, não tive a menor dúvida que a palavra bebado tem um peso enormissimo que nos fere imenso, e que apesar de ter o mesmo significado, que quan do nos dizem que somos alcoólicos é bem mais aceite por nós doentes.Durante vários anos senti que quando dizia que ewra dependente, quase que as pessoas sed riam e continuavam a acreditar que se naquele tempo eu bebi em demasia era porque queriae o álcool não tinha qualquer efeito negativo que eu não tivesse podido controlar. Bom era que assim tivesse sido, mas infelizmente a realidade como e com todos aqueles que um dia têm a infelicidade de ficar dependentes é bem diferente. Se fosseuma questão de parar quando se quizesse, concerteza que não haveria Doentes alcoólicos principalmente crónicos. Nós doentes sabemos que uma grande maioria da nossa população não sabe ou não quer aceitar que nós fomos o que fomos porque fomos dependentes e só por isso fizemos ou passamos pelo que passamos. Se antes de nos tornar dependentes tinhamos uma vida digna e depois de recuperados voltemos a ser exemplares não foi por obra do acaso, mas sim porque dentro de nós existia e existe um coração cheio de amor e vontade de partilhar e ajudar o próximo em regime de total voluntariado. Sabemos aqueles que somos dotados de uma inteligência aceitável que só poderemos nos sentir realizados e viver o nosso dia a dia pleno de felicidade se soubermos partilhar com o próximo a nossa felicidade e ajudar para ser ajudado, faz-nos bem e custa tão pouco. Até á bem pouco tempo fui Monitor activo semanalmente nas Associação de Doentes Alcoólicos Recuperados doConcelho de Santa Mazria da Fedira, da qual guarda óptimas recordações e que jamais poderei esquecer. Mas continuo activo porque sinto que esse é o meu dever e seja no meu dia a dia acontinuar a dar exemplos ou pela noite dentro a escrever, como hoje o que passei e o que sinto e seber que pela vida vivida e experiência posso continuar a ser útil e assim entrar preparado no seguinte para continuar a manter a minha abstinência em cada dia que passa mais forte mentalmente. A outra parte do tempo prencho-a como Secretário da Direcção e responsável por algumas áreas no Centro Recreativo e Cultural de Sebolido.Se em tempos me fui matando. Hoje tudo faço para estar de bem com a vida o mesmo é dizer comigo mesmo e com o próximo. Construí uma familia e disponho de um número de amigos invejáveis. Tudo isto ajuda a que eu e quem me rodeia consigamos ser imensamente feliz. Valdemar (Ferreira "O Marinheiro")
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